Como funciona a proteção internacional de marcas

Em um mundo cada vez mais globalizado, muitas empresas brasileiras buscam expandir seus negócios para o mercado internacional. Nesse contexto, surge uma questão fundamental: como proteger sua marca em outros países?
Diferentemente do que muitos empreendedores imaginam, o registro de marca no Brasil não garante proteção automática em outros países. Cada nação possui seu próprio sistema de propriedade intelectual e, para obter proteção internacional, é necessário seguir procedimentos específicos.
Neste artigo, vamos explorar as diferentes formas de proteger sua marca internacionalmente, com foco especial no Sistema de Madri, que revolucionou o processo de registro internacional de marcas.
Por que proteger sua marca internacionalmente?
Antes de abordarmos os mecanismos de proteção internacional, é importante entender por que essa proteção é fundamental para empresas com ambições globais:
1. Princípio da territorialidade
O direito de propriedade intelectual é regido pelo princípio da territorialidade, o que significa que a proteção concedida a uma marca em determinado país limita-se ao território desse país. Em outras palavras, seu registro de marca no Brasil só é válido dentro do território brasileiro.
2. Prevenção de uso indevido
Sem proteção internacional, sua marca pode ser registrada por terceiros em outros países, o que pode impedir sua entrada nesses mercados ou gerar custos significativos para recuperar os direitos sobre a marca.
3. Valorização do ativo
Uma marca protegida internacionalmente tem maior valor de mercado e oferece mais segurança para investimentos em marketing global e expansão internacional.
4. Combate à pirataria
O registro internacional facilita o combate à pirataria e à contrafação em diferentes jurisdições, permitindo ações legais mais efetivas contra infratores.
Sistemas de proteção internacional de marcas
Existem basicamente três caminhos para proteger sua marca internacionalmente:
1. Via nacional (depósitos diretos)
Neste sistema, o titular da marca solicita o registro diretamente nos órgãos competentes de cada país onde deseja obter proteção. É o método mais tradicional, mas também o mais trabalhoso e custoso quando se deseja proteção em múltiplos países.
Características:
- Necessidade de contratar representantes locais em cada país
- Documentação e procedimentos específicos para cada jurisdição
- Custos individuais para cada pedido nacional
- Acompanhamento separado de cada processo
- Idiomas diferentes para cada pedido
2. Via regional
Alguns blocos econômicos ou organizações regionais oferecem sistemas unificados de registro de marca, válidos para todos os países-membros. Os principais exemplos são:
- União Europeia: O registro de marca da União Europeia (EUIPO) protege a marca em todos os 27 países-membros com um único pedido
- OAPI: Organização Africana da Propriedade Intelectual, que abrange 17 países da África francófona
- ARIPO: Organização Regional Africana da Propriedade Intelectual, que inclui 19 países da África anglófona
3. Sistema de Madri (via internacional)
O Sistema de Madri, administrado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), é atualmente o método mais eficiente para obter proteção internacional de marcas. O Brasil aderiu ao Protocolo de Madri em 2019, permitindo que empresas brasileiras utilizem esse sistema a partir de outubro daquele ano.
O Sistema de Madri: revolução no registro internacional
O Sistema de Madri, baseado no Protocolo de Madri, simplifica significativamente o processo de registro internacional de marcas. Vamos entender como ele funciona e quais são suas vantagens.
Como funciona o Sistema de Madri
O processo de registro internacional pelo Sistema de Madri segue estas etapas:
1. Pedido de base
Para utilizar o Sistema de Madri, é necessário ter um pedido de registro ou um registro de marca já existente no país de origem (no caso do Brasil, junto ao INPI). Este é chamado de "pedido de base" ou "registro de base".
2. Solicitação internacional
Com base no pedido ou registro nacional, o titular solicita o registro internacional através do órgão nacional (INPI, no caso do Brasil), que verifica a conformidade do pedido internacional com o pedido de base e o encaminha para a OMPI.
3. Exame formal pela OMPI
A OMPI realiza um exame formal do pedido e, se estiver em conformidade, inscreve a marca no Registro Internacional e publica o registro na Gazeta Internacional de Marcas.
4. Designação de países
No pedido internacional, o titular indica os países membros do Sistema de Madri onde deseja obter proteção (países designados).
5. Exame pelos países designados
Cada país designado examina o pedido de acordo com sua legislação nacional. O país tem um prazo (geralmente 12 ou 18 meses) para recusar a proteção. Se não houver recusa dentro desse prazo, a marca é automaticamente protegida naquele território.
6. Gestão centralizada
Após a concessão, o titular pode gerenciar centralmente seu registro internacional, incluindo renovações, modificações e designações posteriores de novos países.
Vantagens do Sistema de Madri
O Sistema de Madri oferece diversas vantagens em comparação com os métodos tradicionais:
1. Simplificação administrativa
- Um único pedido internacional em vez de múltiplos pedidos nacionais
- Um único idioma (inglês, francês ou espanhol)
- Um único conjunto de taxas, pagas em uma única moeda (franco suíço)
- Gestão centralizada de renovações e modificações
2. Economia de custos
- Eliminação da necessidade de representantes locais em cada país (na fase inicial)
- Taxas geralmente mais baixas que a soma dos custos de pedidos nacionais separados
- Economia com traduções e legalizações de documentos
3. Flexibilidade
- Possibilidade de adicionar novos países posteriormente (designações posteriores)
- Substituição de registros nacionais existentes pelo registro internacional
- Possibilidade de transformar o registro internacional em pedidos nacionais em caso de cancelamento do pedido de base
4. Prazos previsíveis
- Prazos definidos para recusa pelos países designados (12 ou 18 meses)
- Proteção automática se não houver recusa dentro do prazo
Limitações do Sistema de Madri
Apesar das vantagens, o Sistema de Madri também apresenta algumas limitações:
1. Dependência do pedido de base
Durante os primeiros cinco anos, o registro internacional depende do pedido ou registro de base. Se o pedido de base for recusado ou cancelado nesse período, o registro internacional também será afetado (embora possa ser transformado em pedidos nacionais).
2. Cobertura limitada
Nem todos os países são membros do Sistema de Madri. Atualmente, o sistema conta com 112 membros, cobrindo 128 países. Para países não-membros, ainda é necessário utilizar a via nacional.
3. Necessidade de representantes locais em alguns casos
Se houver recusa ou oposição em algum país designado, geralmente será necessário contratar um representante local para responder a essas objeções.
Países membros do Sistema de Madri
O Sistema de Madri abrange atualmente 112 membros, cobrindo 128 países. Entre os principais mercados cobertos estão:
- Estados Unidos
- União Europeia (todos os 27 países-membros)
- Reino Unido
- China
- Japão
- Austrália
- Rússia
- México
- Canadá
- Brasil
Alguns países importantes que ainda não fazem parte do sistema incluem:
- Argentina
- Bolívia
- Uruguai
- Venezuela
- África do Sul
- Nigéria
- Malásia
- Taiwan
A lista completa e atualizada de membros pode ser consultada no site da OMPI.
Custos do registro internacional pelo Sistema de Madri
Os custos do registro internacional pelo Sistema de Madri incluem:
1. Taxas da OMPI
- Taxa básica: 653 francos suíços (para marcas em preto e branco) ou 903 francos suíços (para marcas coloridas)
- Taxa por país designado: varia conforme o país, podendo ser uma taxa padrão (100 francos suíços) ou uma taxa individual (definida por cada país)
- Taxa complementar: 100 francos suíços por classe de produtos/serviços além da terceira (para países que não cobram taxa individual)
2. Taxas do INPI (Brasil)
- Taxa de certificação: R$ 180,00
3. Honorários profissionais
Além das taxas oficiais, é recomendável contar com o auxílio de profissionais especializados para:
- Análise estratégica dos países a serem designados
- Preparação adequada do pedido internacional
- Acompanhamento do processo em cada país designado
- Resposta a eventuais recusas ou oposições
Os honorários profissionais variam conforme a complexidade do caso e o número de países designados.
Estratégias para proteção internacional de marcas
Para maximizar a eficiência e a eficácia da proteção internacional da sua marca, considere as seguintes estratégias:
1. Planejamento estratégico
Antes de iniciar o processo de registro internacional, é fundamental desenvolver uma estratégia clara, considerando:
- Países prioritários para expansão do negócio
- Países onde há produção ou fornecedores
- Mercados com alto risco de pirataria
- Orçamento disponível para proteção internacional
2. Abordagem combinada
Em muitos casos, a estratégia mais eficiente é combinar diferentes sistemas de proteção:
- Sistema de Madri para a maioria dos países-membros
- Via regional para blocos específicos (ex: EUIPO para União Europeia)
- Via nacional para países não-membros do Sistema de Madri
3. Proteção preventiva
Mesmo que sua empresa ainda não atue em determinados mercados, pode ser estratégico registrar sua marca preventivamente em países onde:
- Há alto risco de pirataria (ex: China)
- Existe plano de expansão futura
- Há produção de produtos ou componentes
4. Monitoramento contínuo
Após obter o registro internacional, é importante manter um monitoramento contínuo para:
- Detectar possíveis infrações à sua marca
- Identificar pedidos de registro de marcas semelhantes
- Garantir a renovação tempestiva dos registros
- Avaliar a necessidade de expandir a proteção para novos países
Como a TC Connect pode ajudar
A TC Connect oferece serviços especializados para proteção internacional de marcas, incluindo:
- Análise estratégica para definição dos países prioritários
- Pesquisa internacional de viabilidade
- Preparação e protocolo de pedidos pelo Sistema de Madri
- Acompanhamento do processo em cada país designado
- Resposta a recusas provisórias e oposições
- Gestão de portfólio internacional de marcas
- Monitoramento de infrações em mercados internacionais
Nossa equipe de especialistas em propriedade intelectual possui experiência no registro de marcas em diversos países e pode orientá-lo na melhor estratégia para proteger sua marca globalmente.
Conclusão
A proteção internacional de marcas é um aspecto fundamental da estratégia de negócios para empresas com ambições globais. Com a adesão do Brasil ao Protocolo de Madri, o processo de registro internacional tornou-se mais acessível e eficiente para empresas brasileiras.
O Sistema de Madri oferece uma solução centralizada e econômica para obter proteção em múltiplos países, mas requer planejamento estratégico e conhecimento técnico para maximizar seus benefícios.
Investir na proteção internacional da sua marca não é apenas uma medida defensiva, mas também um passo estratégico para valorizar seu ativo intangível e pavimentar o caminho para a expansão global do seu negócio.
Entre em contato com a TC Connect para uma análise personalizada das necessidades de proteção internacional da sua marca e descubra como podemos ajudá-lo a proteger seu ativo mais valioso em mercados globais.
4 Comentários
Roberto Almeida
15 Mar, 2025Excelente artigo! Estamos planejando expandir nossa empresa para o mercado europeu e americano, e essa informação sobre o Sistema de Madri veio em boa hora. Não sabia que o Brasil já fazia parte desse sistema.
ResponderLuciana Martins
14 Mar, 2025Tenho uma dúvida: se eu já tenho registros nacionais em alguns países, posso substituí-los por um registro internacional pelo Sistema de Madri? Isso traria alguma vantagem?
ResponderTC Connect
14 Mar, 2025Olá Luciana! Sim, é possível substituir registros nacionais existentes por um registro internacional através do mecanismo de "substituição" previsto no Protocolo de Madri. As vantagens incluem a gestão centralizada de todos os registros (renovações, modificações, etc.) e potencial economia de custos a longo prazo. No entanto, a substituição não é automática e requer um procedimento específico em cada país. Recomendamos uma análise caso a caso para avaliar se a substituição é vantajosa em sua situação específica. Entre em contato conosco para uma consultoria personalizada!
ResponderCarlos Ferreira
13 Mar, 2025Os custos mencionados para o Sistema de Madri parecem bem mais acessíveis do que eu imaginava. Considerando que temos interesse em proteger nossa marca em pelo menos 10 países, parece ser uma opção muito mais econômica do que fazer pedidos separados.
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